Cerca de 80% da frota brasileira de veículos circula sem seguro

Correio Braziliense Por Lino Rodrigues

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Para chegar a esse mercado, seguradoras lançam produtos e serviços inéditos no país

São Paulo — Conscientes das dificuldades do consumidor para administrar um orçamento cada vez mais apertado, empresas que atuam na área de seguros criaram produtos com preços menores e reduziram as exigências na concessão de proteção para veículos. É claro que, com o preço reduzido, alguns itens mais sofisticados como carro reserva e cobertura de vidros e acessórios deixaram de ser oferecidos aos clientes. Atualmente, cerca de 80% da frota brasileira circula sem seguro, número que se deve principalmente aos preços altos. “Os seguros mais baratos vieram para ficar. Eles já criaram, inclusive, um nicho específico”, diz Bruno Kelly, professor da Escola Nacional de Seguros e sócio Correcta Corretora.

A multinacional israelense Ituran colocou na praça um seguro contra roubo e furto que tem custo mensal que começa com parcelas a partir de R$ 69,90. Nessa modalidade, a cobertura da perda total só é aplicada se os prejuízos superarem 75% do valor do veículo. Na verdade, o produto começou a ser oferecido ao mercado brasileiro em 2009, quando a crise financeira ainda não passava de uma “marolinha”, e chegou sem fazer alarde.

Com o agravamento da crise e consumidores reduzindo custos e migrando para alternativas mais baratas, outras seguradoras como Porto Seguro também entraram no segmento. Recentemente, a Ituran voltou a inovar e acrescentou perda total por colisão, com um acréscimo de mais R$ 50, e cobertura de terceiros (a partir de mais R$ 60), sendo que o consumidor pode incluir os dois itens ou apenas um deles, fazendo os chamados combos. Esses valores variam para cima conforme o modelo do veículo. Também é preciso acrescentar na conta R$ 299 para instalação de um rastreador, uma exigência da empresa.

Diversas seguradoras, como Mapfre, Libert e QBE, lançaram opções parecidas, e assim um novo mercado surgiu.

Uma das vantagens, além da economia, é que não há análise de perfil do motorista, o que facilita a vida dos mais jovens, com idade entre 18 e 40 anos, ou que moram em bairros com alto índice de criminalidade. “A grande maioria dos seguros tradicionais leva em conta a análise de perfil do usuário do carro, o que encarece muito o valor total para público de perfil ruim. O nosso foi concebido para não ter análise e é focado nesses motoristas”, diz Roberto Posternak, diretor comercial da Ituran.

De acordo com o executivo, esses seguros chegam a custar entre 50% e 60% menos para as pessoas que têm perfil considerado ruim. Enquadram-se nessa categoria jovens, proprietários de carros com mais de três anos de fabricação, pessoas que vivem em áreas com mais ocorrências de roubo e furto e que as usam o carro com frequência. “Esse consumidor, cujo custo do seguro chega a ser exorbitante, passou agora a ter uma opção acessível”, diz Posternak, lembrando que muitos que tem crédito negativado e, dependendo das regras das seguradoras, não conseguem ser atendidos. Com a ampliação das coberturas, o produto passou a atender também quase a totalidade de veículos que circulam no país, como os carros com até 20 anos de uso e cujo valor de tabela da Fipe não ultrapasse R$ 90 mil.

Desde que iniciou a venda do rastreamento com seguro, a Ituran vem crescendo a taxas de 30% ao ano. Hoje, a empresa possui 650 mil veículos em sua base ativa. A empresa recuperou mais de 45 mil veículos nos últimos anos, o correspondente a R$ 2,5 bilhões. “Conseguimos massificar esse mercado e recuperar até 80% dos veículos roubados ou furtados. Isso é bom para nós, para as seguradoras e para os segurados”, afirma o executivo da Ituran.

No ano passado, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) regulamentou um seguro de carro mais barato, conhecido como Auto Popular. Empresas como Azul e Tokio Marine também lançaram proteções que utilizam, em eventuais sinistros, peças usadas ou de reposição que não são originais.

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