Estadão l Antonio Penteado Mendonça
A pandemia do coronavírus, que entrou no Brasil, ao contrário do que acontece na maioria das epidemias, trazida pelos ricos, tem alguns aspectos extremamente interessantes e que merecem ser analisados.
O primeiro é justamente a chegada da pandemia. Os primeiros casos foram diagnosticados pelo Hospital Albert Einstein, em São Paulo, um dos hospitais de ponta do País e, por isso mesmo, dos mais caros de nossa rede hospitalar.
A doença foi trazida por pessoas voltando do exterior, ou seja, pessoas com condições de pagar viagens internacionais, pegas de surpresa por uma epidemia chinesa que cruzou as fronteiras da China para se espalhar rapidamente pelo mundo, levada pelos viajantes que deixaram aquele país.
A chegada no Brasil se deu algum tempo depois de vários outros países já serem palco do vírus, com diferentes velocidades e graus de expansão da covid-19, em função das medidas adotadas por cada um deles.
Os mais bem sucedidos foram países asiáticos, que, em função das lembranças ainda vivas da Sars estão em permanente prontidão, com protocolos rígidos para fazer frente a novas situações de risco.
O quadro mais dramático, até agora, é o italiano, onde, por demora na compreensão pela sociedade da gravidade da pandemia, não foram tomadas medidas imediatas e, quando a reação finalmente se deu, a população já havia sido severamente afetada.
Não sei se é possível falar em sorte, mas o fato da epidemia ter entrado trazida pelos ricos, em primeiro lugar, jogou os custos dos tratamentos para os planos de saúde privados, dando ao governo tempo para entender o quadro, planejar e direcionar recursos extras para a saúde pública, que, sem eles, não teria condições mínimas de enfrentar o que ainda vem pela frente.
Em segundo lugar mostrou para os que não acreditavam que a pandemia é séria, ao mesmo tempo que deu ao ministro da Saúde a oportunidade de assumir o comando da cruzada em favor da saúde do Brasil e tomar as medidas mais indicadas para fazer frente a um quadro que vai se agravar nos próximos meses, mas que, com as ações já adotadas, pode ser menos dramático do que o que aconteceu na Itália.
A simples leitura da evolução da covid-19 no País mostra de forma insofismável que, ao contrário do que gostam de pintar, os planos de saúde privados não são bichos papões dispostos a sugar o dinheiro do brasileiro. Eles estão, sem alarde, cumprindo seu papel e atendendo seus segurados, assumindo os custos dos tratamentos.
Daqui para a frente, a epidemia deve se espalhar por todas as classes sociais e a saúde pública, como não poderia deixar de ser, assumirá o protagonismo no combate ao coronavírus. É preciso dizer que muitos hospitais privados, entre eles várias Santas Casas e hospitais filantrópicos, que atendem o SUS, espontaneamente, diante dos primeiros casos de covid-19, começaram a se aparelhar para cumprir seu papel e dar atendimento a quem os procure.
Importante salientar que as primeiras providências tomadas pela Santa Casa de São Paulo, como a expansão dos leitos de UTI, a compra de material específico, o conserto dos equipamentos de ventilação e dos monitores, a compra de circuitos e filtros para garantir o uso ininterrupto deles nos leitos de UTI já instalados e a contratação de pessoal para enfermagem foram feitas com recursos próprios, sem ajuda dos órgãos governamentais, que só agora começam a fazer os repasses necessários.
Também é preciso dizer que os planos de saúde privados assumirem os primeiros casos permitiu ao governo, sob a orientação firme do ministro da Saúde, Dr. Henrique Mandetta, planejar e implantar as ações necessárias para enfrentar a pandemia.
Finalmente, vale salientar a reação da sociedade brasileira que, diante de uma ameaça dramática, capaz de desestruturar o sistema de saúde nacional, se colocou a favor das medidas adotadas, apoiando inclusive as restrições de movimento e o isolamento social.
Agora é cada um continuar fazendo sua parte. Não se preocupe, como todas as outras, esta pandemia também vai passar.
Voltar