O Globo
Ferramenta evita exposição de pacientes e reserva recursos para casos graves
A determinação de isolamento social por causa da pandemia de Covid-19, vai acelerar processo iniciado há pouco mais de um ano pelos planos de saúde: o atendimento por telemedicina. Portaria publicada, em 23 de março, pelo Ministério da Saúde possibilita que as operadoras do setor amplifiquem os serviços, até então destinados, em sua maioria, para atender doentes crônicos ou usuários cadastrados em seus programas de atenção primária.
A Amil, segunda maior operadora do país, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), com 3,6 milhões de beneficiários, é a primeira a lançar um serviço de telemedicina para toda a sua carteira.
A plataforma foi lançada oficialmente nesta quinta-feira, mas o serviço já funcionava sem alarde desde o dia 23. Em média, atendia duas mil pessoas diariamente, 70% com dúvidas sobre a Covid-19.
Fruto de um projeto que vinha sendo desenvolvido internamente há mais de um ano, o serviço funcionará 24 horas por dia, nos sete dias da semana, com 360 profissionais, entre enfermeiros e médicos, e terá capacidade de atender a seis mil pessoas por dia. A dinâmica é como a de um pronto-socorro, com a triagem sendo feita pelo corpo de enfermagem e a partir daí o encaminhamento ou não para os médicos, em sua maioria generalistas ou com especialidade em medicina de família.
Lançado para atender a demanda reprimida pela pandemia, o serviço não sairá mais do menu de ofertas da operadora, afirma o CEO da Amil, Daniel Coudry.
– Nosso plano era lançar essa plataforma no fim do primeiro semestre, mas antecipamos por conta da pandemia. É mais uma opção no sistema que permite, por um lado, atendimento sem recorrer ao pronto-socorro e de outro tira do usuário a tomada de decisão da hora certa de procurar um atendimento de saúde.
Por medo de contaminação, muitos estavam deixando de procurar hospitais em casos necessários. A nossa proposta inicial é dar esse atendimento de urgência e emergência. A segunda fase serão as de consultas eletivas – explica Coudry acrescentando.
– Esse é um serviço que continua após o fim da pandemia, com os ajustes que se fizerem necessários diante da nova regulamentação que virá.
A Federação Nacional da Saúde Suplementar (FenaSaúde), entidade que representa as maiores empresas do setor, ressalta que a telemedicina ‘ evita exposição de pacientes a riscos de contaminação e, ao mesmo tempo, permite que mais recursos médicos e clínicos sejam reservados para o atendimento de quem está acometido pela doença.’
Apesar de afirmar não haver uma projeção consolidada de como será a demanda do serviço de telemedicina, a FenaSaúde afirma que a expectativa é a ampliação do uso dessa ferramenta por todo o sistema de saúde.
Para tanto, chama atenção sobre a necessidade de atualização da regulação pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) ‘a fim de que o atendimento à distância ocorra em plataformas tecnológicas adequadas, de forma segura, confiál e ética, com todas as garantias de sigilo e preservação de dados prevista em lei, para a proteção de pacientes e profissionais de saúde’.
O CFM chegou a editar uma norma, em fevereiro do ano passado, mas que foi revogada após críticas das entidades médicas e profissionais. O novo processo de discussão da regulamentação da telemedicina já está próximo da conclusão. As contribuições da sociedade e de especialistas, feitas via consulta pública, foram encerradas em janeiro, mas o CFM decidiu esperar o fim da pandemia para publicar o texto final.
– Achamos que ao fim da pandemia poderemos identificar eventuais problemas, abusos, riscos e benefícios da telemedicina. A preocupação do conselho é com a despersonalização do atendimento, a relação médico-paciente é um principal valor da nossa atividade. O paciente não pode não saber quem é o médico do lado de lá, a construção da confiança é um remédio importante. Por outro lado, entendemos que não tem cabimento andar 400km para obter uma receita. Nosso objetivo é garantir a segurança de quem está do outro lado de que vai ser atendido por alguém capacitado – destaca Donizette Giambeardino, vice-presidente do CFM.
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