CQCS
Mais de 100 mortos e quatro mil pessoas feridas. Esse foi o trágico saldo apurado até a manhã desta quarta-feira da enorme explosão que destruiu a área portuária de Beirute (Líbano), nesta terça-feira (04 de agosto).
Segundo o consultor Sergio Ricardo, em uma explosão dessas (mesmo sem saber o verdadeiro motivo que ocasionou tudo isso), o seguro pode cobrir os danos de prédios e imóveis ao redor neste caso. “Os danos próprios e de terceiros estão cobertos. Mas, dificilmente haverá verbas de RC para cobrir os danos a terceiros em face de proporção do acidente”, explica o consultor, em entrevista ao CQCS.
Ele acrescenta que terceiros atingidos pela explosão podem acionar o próprio seguro neste caso. “Sim, se tiverem seguro, podem acionar a própria seguradora. Não conheço os contratos no Líbano, mas deve existir a explosão por qualquer natureza”, observa.
Sergio Ricardo diz ainda que, quando não se tem verba de RC para cobrir esse tipo de acidente, as indenizações são definidas pela Justiça. Nestes casos, a obrigação de pagar é do causador e o seguro “ameniza os prejuízos, se existentes”.
CAUSAS.
Ainda não se tem informações sobre as origens do acidente, se foi um evento de processo ou criminoso. Mas, com certeza houve um vazamento de substâncias químicas na presença de fontes de ignição, seguido de incêndio e explosão.
As primeiras notícias falam em Nitrato de Amônio em grande quantidade em um depósito enorme inaugurado em 2014. Esta substância já provocou vários outros acidentes, com explosões que destruíram no passado fábricas de fertilizantes, como a ocorrida em abril de 2013 perto de Waco, no Texas, e na fábrica AZF em Toulouse, na França, em setembro de 2001. A substância é largamente utilizada como fertilizante na agricultura.
O nitrato de amônio, na verdade, é relativamente pouco explosivo em temperatura ambiente. É pó branco ou em grânulos solúveis em água. Mas, a partir de 210 °C, decompõe-se e, se a temperatura aumentar para além de 290 °C, a reação pode tornar-se explosiva.
Um incêndio, tubos superaquecidos, fiação defeituosa ou relâmpagos podem ser suficientes para desencadear tal reação em cadeia. Mas para que uma explosão ocorra, deve haver também uma quantidade significativa de nitrato de amônio, segundo os engenheiros químicos.
A engenharia de riscos mapeia eventos como estes a partir das consequências de grandes acidentes, de forma que se possa formular equações matemáticas que possam explicar o que aconteceu. A partir daí, abastecem softwares de simulação que são utilizados pelos engenheiros para estimar as consequências de eventos indesejáveis, de várias fontes e causas, inclusive combinadas, permitindo que se estabeleça as perdas humanas e materiais nas cercanias dos acidentes.
Trata-se de estudos complexos, caros, mas com inúmeras aplicações práticas, inclusive o mapeamento da PMP – Perda Máxima Possível e do DMP – Dano Máximo Provável, que são variáveis importantes na definição de limites de indenização dos seguros, assim como a sua precificação.
Além das perdas materiais, mortos e feridos, em havendo causas de processo nas instalações, a responsabilidade civil em eventos assim é inimaginável, pois as consequências ultrapassam os muros e há impactos muito significativos a quilômetros de distância.
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